06/05/2012

A Vaca




Um velho mestre decidiu ir ter com o seu discípulo visitar a aldeia mais pobre entre as aldeias mais pobres da região. Quando chegou, dirigiu-se ao casebre mais miserável de todos.

Assim, o mestre e o discípulo entraram numa casa de pouco mais de seis metros quadrados na qual vivia pobremente uma família composta pelo pai, pela mãe, quatro filhos. Contudo, apesar da penúria, aquela família possuía um bem, extraordinário, tendo em conta aquelas circunstâncias: uma vaca faminta cujo escasso leite lhes servia de alimento, insuficiente, é certo, mas o único que tinham.

O pai, pobre, mas hospitaleiro, convidou o mestre e o discípulo para passarem a noite com eles. No dia seguinte, muito cedo, assegurando-se de que não acordava ninguém, o mestre disse em voz baixa ao discípulo:
- Chegou a hora da lição.
O mestre, sob o olhar atónito do discípulo, sacou de uma adaga e degolou a pobre vaca.
- Que espécie de lição é que deixa uma família sem nada de nada? – Queixou-se o jovem discípulo. - Regressemos a casa – foi a única resposta do mestre.

Um ano mais tarde...

Mestre e discípulo voltaram à aldeia para saber o que tinha acontecido àquela família. Mas, no lugar onde antes estava o casebre miserável e sujo, erguia-se agora uma casa grande, limpa e bastante luxuosa.
Viram sair o pai. Estava bem vestido. Cheio de orgulho e com alguns quilos a mais. 
O homem, que não suspeitava de que o mestre e o discípulo tivessem sido os responsáveis pela morte da sua vaca, contou-lhes que, no dia em que tinha partido, algum invejoso tinha degolado selváticamente o pobre animal.
- Aquela vaca era o nosso sustento. Toda a gente nos respeitava porque tínhamos algum leite. Quando vimos a vaca morta, percebemos que estávamos em verdadeiros apuros e que teríamos de reagir. E foi o que fizemos. Decidimos limpar o pátio que existe nas traseiras da casa, conseguimos algumas sementes e semeámos batatas e alguns legumes para comermos. Passado pouco tempo, percebemos que a nossa quinta produzia mais do que necessitávamos e começámos a vender. E, com os lucros, comprámos mais sementes, e assim tem sido até hoje. Acabo de comprar a casa em frente para plantar mais batatas e hortaliças e algumas…
Enquanto o orgulhoso pai continuava a falar sem parar, o discípulo deu-se conta de que aquela vaca tinha sido durante muito tempo não apenas o seu único bem, mas também a corrente que mantinha toda a família presa a uma vida de conformismo e de mediocridade.

"A vaca representa todo o pretexto, justificação, mentira, racionalização, medo ou falsa crença que nos mantém presos a uma vida de mediocridade e nos impede de atingir a qualidade de vida que realmente merecemos. Em geral, toda a vaca pertence a uma destas duas categorias: as desculpas e as atitudes limitadoras"  (Camilo Cruz, 2008)

(Fábula inspirada na versão do Dr. Camilo Cruz)


Mesmo que inconscientemente, temos sempre algo na nossa vida que nos serve de desculpa para não darmos o “próximo passo”. A maioria das pessoas tem a sua própria Vaca que as sustenta, mas ao mesmo tempo as impede de crescer e evoluir.
Temos que assumir o risco e sair da nossa zona de conforto. Nem tudo é fácil, para chegar mais longe temos que atravessar caminhos nem sempre agradáveis, mas, com persistência, foco e dedicação, tudo é possível.

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tom caet