31/05/2013

aparência: Você é, aquilo que você tem...


Você é, aquilo que você tem”
Abstende-vos de toda aparência do mal. I Tessalonicenses 5:22.

Irmãos,

                    Somos frutos de uma sociedade que nos faz medíocres e que nos induz todo o tempo a valorização exterior, e cada vez que valorizamos o estereótipo atribuído pela mídia: “Você é, aquilo que você tem”, automaticamente somos aceito no meio social, caso não, somos discriminado nesse mundo comercial, profissional e de certa forma impessoal, vivendo mais por causa da condição financeira do que moral.  Infelizmente, hoje em dia, as pessoas não dão chance de nos conhecer justamente devido a essa ideia da primeira impressão é a que fica. Afinal, qual é a parte mais bonita numa pessoa?  Ainda que poucos sejam sinceros em admitir que erram por fazerem um mal juízo de alguém, será que nossa aparência revela o nosso verdadeiro valor e o que somos na realidade pra alguém?  

Sempre afirmamos que Deus olha além da nossa aparência... e o que importa é o nosso interior... só que a aparência não revela o que as pessoas são na realidade ou mesmo o seu verdadeiro valor pessoal. Mesmo assim ainda insistimos em julgar alguém pela aparência exterior ou qualidades morais.
Mesmo conhecendo a pessoa por meio de uma boa conversa, não tiramos as devidas conclusões para reduzir o juízo. E isso ocorre porque não confessamos nosso preconceito e julgamos por não sabermos lidar com nossas próprias falhas, frustrações e muito menos sabermos expô-las.   
Essa tal afinidade que está no que se vê, é simplificada no ter ou não ter, Entretanto, o que conta não está por fora, no exterior, que por vezes, não agrada o suficiente, se não a conhecer interiormente. O que parece interessante no momento em outro tempo pode ser repulsivo. Ás vezes todos somos alvos desta mesma discriminação.
A Bíblia nos mostra, ideias totalmente opostas, valores que com o tempo foram distorcidos. Há inúmeros fatos, onde Deus não se atentou para a aparência no momento de escolher um servo dele para alguma obra. Um grande exemplo foi o que aconteceu com Davi, este era o filho mais novo entre seus irmãos, era de baixa estatura, mas contudo Deus achou graça nele, pois possuía um coração íntegro e uma fé inabalável, logo Davi foi ungido a rei de Judá.
Finalmente, algumas vezes, nós, seres humanos, queremos encontrar motivos para não gostarmos dos outros, só que não fazemos questão de pôr a prova nosso próprio julgamento referente a uma opinião já formada e o que os outros pensam da gente. E quando nos agradamos do estereótipo de alguém, aquela imagem superficial nos impulsiona a confiarmos mediante as informações que acreditamos ter reunido, porque somos muito ligados ao que nos convence por meio da aparência.
Em meio a esse mundo competitivo, desigual e superficial cabe a nós termos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes. (Mateus 10:16).
Felizmente, Deus julga pela fé e pelo caráter, não pela aparência. E somente Ele pode ver o nosso interior, só ele pode nos julgar com precisão. A maioria das pessoas passam horas mantendo a sua aparência exterior; e fazem pouco para desenvolver o seu caráter interior. Porém o senhor disse a Samuel: não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, pois eu o rejeitei. O senhor não vê como vê o homem. O homem olha para o que está diante dos olhos, porém o senhor olha para o coração. (1 Samuel 16:7)

30/05/2013

Distúrbios de comunicação E GAGUEIRA

Perguntas mais frequentes

O que são distúrbios de comunicação?

Existem diversos tipos de distúrbio agrupados sob essa categoria. Alguns exemplos são os distúrbio de articulação, de voz, de linguagem e a gagueira.

O que é fissura labiopalatal?

É uma abertura na região do lábio ou palato, ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas, que ocorre entre a quarta e a décima semana de gestação. As fissuras podem ser unilaterais ou bilaterais e variam desde formas mais leves, como cicatriz labial e o úvula bífida, até formas mais graves, como as fissuras amplas de lábio e palato. Podem ocorrer fissuras atípicas envolvendo a região oral, nasal, ocular e craniana. No Brasil, a cada 650 crianças uma tem essa malformação labiopalatal, chamada popularmente de "lábio leporino".

Quais são as causas da fissura labiopalatal?

A causa é multifatorial, podendo combinar fatores genéticos e ambientais. O fator genético envolve uma inter-relação de várias informações genéticas herdadas dos pais. Dentre os fatores ambientais estão o uso do álcool ou de cigarros, a realização de raio X na região abdominal ou a ingestão de medicamentos com anticonvulsivantes ou corticóides durante o primeiro trimestre da gravidez.

Existe um Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP, em Bauru. O trabalho dessa instituição pode ser conhecido acessando http://www.centrinho.usp.br/

O que é dislalia?

É uma perturbação da fala caracterizada por hesitação repetitiva e demora na emissão das palavras ou pelo prolongamento anormal dos sons. A gaguez começa geralmente na infância, em 90% dos casos antes dos 8 anos. Afeta entre 1 a 3% da população adulta. Cerca de metade das crianças em que a gagueira persiste até aos 5 anos (pode começar entre os 2 e 4 anos), continuam a gaguejar quando adultos.

O que é ecolalia?

Ecolalia é a repetição da última palavra, som ou frase ouvida. Pode ser considerada um distúrbio de comunicação semelhante à gagueira.

O que é afasia?

Afasia é um comprometimento verbal que implica em distúrbios de vocabulário ou de problemas quanto a compreensão de linguagem. A afasia possui as mesmas etiologias da disartria, muitas vezes um AVCI ou AVCH, que compromete as áreas do córtex cerebral, relacionadas com a linguagem.

A afasia pode ser classificada de diferentes maneiras, de forma simplificada podemos citar:

* afasia de recepção: na qual o indivíduo apresenta dificuldades para compreender a linguagem falada ou escrita;

* afasia de expressão: na qual o indivíduo apresenta dificuldades para expressar seus pensamentos por meio da fala ou da escrita, mesmo tendo intenção comunicativa;

* afasia receptiva/expressiva: na qual o indivíduo apresenta dificuldades para compreender o que lhe é comunicado e expressar seus pensamentos.

O que é disartria?

É a articulação defeituosa dos sons da fala sem comprometimento do processo linguístico. A dificuldade é devida a distúrbios motores dos órgãos da fonação, como língua e lábios, em consequência de lesões bulbares, cerebelares ou mesmo corticais (do córtex cerebral).

O que é dislexia?

A definição mais usada na atualidade é de Abril de 1994 e foi redigida pela Internacional Dyslexia Association:

"Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico da linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples. Apesar de submetida a instrução convencional, adequada inteligência, oportunidade sociocultural e não possuir distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, a criança falha no processo de aquisição da linguagem. A dislexia é apresentada em várias formas de dificuldade com as diferentes formas de linguagem, frequentemente incluídos problemas de leitura, de aquisição e capacidade de escrever e soletrar."

O que é disgrafia?

O termo disgrafia refere-se à dificuldade de escrita. Assim, de acordo com a divisão tradicional, a disgrafia se subdivide em disgrafia específica, ou propriamente dita, e disgrafia motora. Na primeira delas, não se estabelece uma relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam os sons, as palavras e as frases. A isto denomina-se simplesmente disgrafia. A segunda ocorre quando a motricidade está particularmente em jogo, mas o sistema simbólico não. A isto denomina-se discaligrafia, entendendo-a não somente como o resultado de uma alteração motora, mas também de fatores, o que altera a forma da letra. Os indicadores que se consideram para a disgrafia recebem os mesmos nomes que os indicadores de dislexia, apenas observa-se que na primeira estes ocorrem no momento de escrever (inversão, substituição, translação, omissão de palavras) e, na segunda, durante a leitura.


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Pessoas que gaguejam, como grupo, diferem dos seus pares fluentes por apresentarem, na média, uma pontuação levemente mais baixa em testes de inteligência, tanto em tarefas verbais quanto em tarefas não-verbais, e por apresentarem um certo atraso no desenvolvimento da fala (Andrews et al., 1983; Paden et al., 1999). Contudo, as desvantagens nos escores de inteligência precisam ser interpretadas cuidadosamente, haja vista que os gagos geralmente enfrentam dificuldades para se ajustar ao ambiente escolar, o que pode resultar numa defasagem de vários meses (Andrews et al., 1983). Os sintomas associados incluem atrasos nas tarefas que requerem resposta vocal (Peters et al., 1989) e também em tarefas cronometradas de habilidade bimanual relativamente complexas, como inserir uma linha no buraco de uma agulha (Vaughn and Webster, 1989), ao mesmo tempo em que muitos outros estudos sobre tempos de reação sensório-motora não produziram resultados consistentes (Andrews et al., 1983). Alterações no feedback auditivo (p.ex., retroalimentação auditiva atrasada ou com alteração de frequência), várias outras formas de estimulação auditiva (p.ex., leitura em coro) e mudanças do ritmo da fala (p.ex., fala silabada) produzem uma redução imediata e significativa na frequência da gagueira, o que tem suscitado suspeitas de um processamento sensório-auditivo prejudicado ou da falta de um mecanismo eficiente de sincronização interna em indivíduos gagos (Lee, 1951; Brady and Berson, 1975; Hall and Jerger, 1978; Salmelin et al., 1998). Outros grupos de pesquisa também reportaram um início atrasado ou descoordenado em padrões articulatórios complexos em indivíduos gagos (Caruso et al., 1988; van Lieshout et al., 1993). A suposição de que a gagueira poderia ser uma forma de distonia - contrações musculares involuntárias produzidas pelo SNC -, específica para a produção de linguagem (Kiziltan and Akalin, 1996), não foi corroborada por um estudo sobre excitabilidade do córtex motor (Sommer et al., 2003).

A neuroquímica, por outro lado, pode estabelecer relações entre a gagueira e desordens relacionadas a uma rede de estruturas cerebrais envolvidas no controle do movimento, os núcleos da base. Um aumento na concentração do neurotransmissor dopamina tem sido associado a distúrbios de movimento, tais como a síndrome de Tourette (Comings et al., 1996; Abwender et al., 1998), que é uma desordem neurológica caracterizada por emissões vocais e movimentos corporais involuntários e repetitivos (tiques vocais e motores). Em conformidade com essa hipótese, assim como acontece com a síndrome de Tourette, a gagueira também é suavizada com a administração de medicação antidopaminérgica, ou seja, neurolépticos como o haloperidol, a risperidona e a olanzapina (Brady, 1991; Lavid et al., 1999; Maguire et al., 2000). Ao mesmo tempo, relatos sugerem que os sintomas da gagueira são acentuados ou até mesmo surgem a partir de um tratamento que envolva medicação dopaminérgica (Koller, 1983; Anderson et al., 1999; Shahed and Jankovic, 2001). Consequentemente, uma hiperatividade no sistema neurotransmissor dopaminérgico tem sido correlacionada à gagueira e parece contribuir para sua manifestação. Embora os antagonistas da dopamina tenham um efeito positivo sobre a gagueira, todos eles também possuem o risco de efeitos colaterais, o que ainda os impede de serem utilizados como uma primeira linha de tratamento para a gagueira. Lições tiradas a partir de técnicas de imageamento cerebral

Dada a existência de relatos sobre gagueira adquirida após trauma cerebral (Grant et al., 1999; Ciabarra et al., 2000), é possível cogitar que a simples análise das lesões (isto é, investigar o ponto comum de todas essas lesões que levaram à gagueira) pudesse ajudar na localização de uma anormalidade específica responsável pelo problema. Infelizmente, as lesões que levam à gagueira neurogênica são difusas e não parecem seguir um padrão evidente de sobreposição. Até mesmo o contrário tem sido observado: cura da gagueira após derrame talâmico em um paciente (Muroi et al., 1999).

Em pessoas fluentes, o hemisfério esquerdo, normalmente dominante para funções linguísticas, fica mais ativo durante tarefas que envolvam fala e linguagem. Em contrapartida, estudos pioneiros sobre lateralização através de EEG já sugeriam um padrão anormal de dominância hemisférica em gagos (Moore and Haynes, 1980). Com o advento de outras técnicas não-invasivas de imageamento cerebral, tais como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a ressonância magnética funcional (fMRI), tornou-se possível visualizar a atividade cerebral de gagos e comparar os padrões obtidos àqueles de indivíduos fluentes do grupo controle. Seguindo a pista deixada por teorias consagradas que relacionavam a gagueira a um desequilíbrio na assimetria hemisférica normal (Travis, 1978; Moore and Haynes, 1980), um importante estudo baseado em PET (Fox et al., 1996) constatou uma ativação aumentada do hemisfério direito quando portadores de PDS eram solicitados a realizar uma determinada tarefa de linguagem. Outro estudo também utilizando PET (Braun et al., 1997) confirmou este resultado, mas adicionou um importante detalhe ao estudo prévio: Braun e seus parceiros de pesquisa descobriram que o hemisfério esquerdo estava mais ativo durante os momentos de produção de fala gaguejada, enquanto a ativação do hemisfério direito estava mais correlacionada aos momentos de fala fluente. Assim, os autores concluíram que a disfunção primária está localizada no hemisfério esquerdo e que a hiperativação do hemisfério direito pode não ser a causa da gagueira, mas na verdade um mecanismo compensatório. Um processo compensatório similar tem sido observado após derrames cerebrais que resultam em afasia, quando o hemisfério direito intacto tenta compensar no mínimo parcialmente a perda de função do hemisfério oposto (Weiller et al., 1995). A hiperativação do hemisfério direito durante produção de fala fluente tem sido confirmada mais recentemente por meio de fMRI (Neumann et al., 2003).

PET e fMRI têm alta resolução espacial; porém, em razão de determinarem apenas de forma indireta a taxa de atividade cerebral através do fluxo sanguíneo, a precisão de seus dados com relação ao instante exato de ocorrência do fenômeno investigado é mais limitada. A magnetoencefalografia (MEG) é um método mais apropriado quando se trata de examinar uma sequência de respostas cerebrais de curta duração e minimamente espaçadas no tempo. Consequentemente, a MEG foi usada para investigar gagos e indivíduos fluentes do grupo controle durante uma tarefa de leitura de palavras isoladas (Salmelin et al., 2000). Um importante resultado obtido a partir deste estudo foi que os sujeitos gagos conseguiram ler a maioria das palavras isoladas fluentemente. Contudo, os dados mostraram também uma diferença bastante evidente entre os dois grupos: enquanto os indivíduos fluentes ativaram áreas frontais do hemisfério esquerdo relacionadas ao planejamento da linguagem antes de acionarem as áreas centrais envolvidas na execução da fala, este padrão estava ausente, ou até mesmo invertido, em gagos. Este foi o primeiro estudo a mostrar diretamente uma correlação neuronal da hipotética dificuldade de temporalização em gagos (Van Riper, 1982).

Desse modo, os estudos de neuroimagística funcional revelaram dois importantes fatos: (i) em gagos, o hemisfério direito parece estar hiperativado; e (ii) parece haver um problema de temporalização entre as regiões corticais frontal e central no hemisfério esquerdo. O último fato também se ajusta a várias outras observações que dão conta de que indivíduos gagos possuem pequenas anormalidades em tarefas de coordenação com um certo grau de complexidade, sugerindo que o problema subjacente está localizado em torno de áreas cerebrais motoras e áreas pré-motoras associadas.

Há anomalias estruturais paralelas às anomalias funcionais descritas? O primeiro estudo anatômico a investigar esta questão usou aparelhos de ressonância magnética de alta resolução que detectaram anormalidades em áreas cerebrais relacionadas às funções de fala e linguagem (áreas de Broca e Wernicke) (Foundas et al., 2001). Em adição a esses dados, os pesquisadores também relataram a presença de anomalias no padrão de girificação do cérebro. A girificação é um procedimento bastante complexo de desenvolvimento cerebral, e a ocorrência de anormalidades neste processo é um indício da presença de distúrbios do desenvolvimento.

Outro estudo recente investigou a hipótese de que uma conexão cortical deficiente poderia ser a razão subjacente às perturbações no sincronismo entre as regiões frontal e central observadas nos estudos de MEG.
  
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Usando uma nova técnica de imageamento por ressonância magnética, a DTI (imageamento vetorial por tensor de difusão), que permite avaliar a estrutura íntima da substância branca cerebral (análise ultra estrutural de feixes nervosos), os pesquisadores depararam com uma área que exibia uma coesão nitidamente diminuída na constituição das fibras nervosas do opérculo rolândico esquerdo (Sommer et al., 2002). Esta estrutura é adjacente à representação motora primária da língua, da laringe e da faringe (Martin et al., 2001) e ao feixe arqueado inferior; ela liga áreas do córtex frontal e temporal encarregadas do processamento da linguagem, integrando-as numa espécie de sistema de linguagem têmporo-frontal responsável pela produção e percepção de palavras (Price et al., 1996). É portanto concebível admitir que uma transmissão perturbada de impulsos nervosos através das fibras que atravessam a região do opérculo rolândico inviabilize a rápida integração sensório-motora necessária para a produção de fala fluente. Esta teoria também explica a razão pela qual o padrão temporal normal de ativação entre o córtex pré-motor e o motor está dessincronizado em indivíduos gagos (Salmelin et al., 2000) e por que, como consequência, as áreas de linguagem do hemisfério direito tentam intervir para compensar esta deficiência (Fox et al., 1996).

Esses novos dados também fornecem uma teoria para explicar o mecanismo pelo qual as manobras comuns de indução de fluência - tais como ler em coro, cantar ou ler com o auxílio de um metrônomo - conseguem reduzir a gagueira instantaneamente. Todos esses procedimentos envolvem um sinal externo (isto é, outros leitores lendo em uníssono, a melodia da música que está sendo entoada, e o ritmo constante do metrônomo). Todos esses sinais externos alimentam o sistema de produção de fala através do córtex auditivo. É possível, portanto, que este sinal de disparo exterior alcance as áreas cerebrais centrais responsáveis pela produção da fala, contornando a desconexão frontocentral e reabilitando a sincronização dos centros de processamento cujas atividades estavam mal integradas. Em termos simples, esses estímulos externos podem ser vistos como uma espécie de marca-passo.

FONTE: Instituto Brasileiro de Fluência



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1. Mito: A gagueira é um hábito adquirido.

Realidade: Afirmar que a gagueira é um hábito significa que a pessoa começaria a gaguejar voluntariamente e, com a prática, a gagueira se tornaria automática. Não é isso o que acontece. A gagueira é um distúrbio neurobiológico causado provavelmente pelo mau funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela automatização da fala: os núcleos da base não conseguem ajustar adequadamente o tempo de duração de sons e sílabas, ocasionando alongamentos, bloqueios ou repetições. Esta disfunção é resultado de uma predisposição genética ou de uma alteração na estrutura do próprio cérebro. Portanto, a gagueira não pode ser simplesmente aprendida por imitação, porque ocorre em pessoas que, de alguma forma, estão propensas a ela.

2. Mito: Se eu não gaguejo em algumas situações (por exemplo: cantar, ler em coro, falar com outro sotaque, representar um personagem, sussurrar), é sinal de que posso ser fluente em todas as situações. Se não consigo ser sempre fluente, a culpa é minha.

Realidade: Dependendo do contexto, a fala é processada por diferentes partes do cérebro. As variações situacionais da gagueira - embora possam soar indevidamente como um problema emocional ou de ansiedade social - refletem apenas diferenças no modo como o cérebro processa a fala de acordo com a circunstância, usando um de dois sistemas pré-motores para fazer a temporalização do movimento: o sistema pré-motor medial ou o sistema pré-motor lateral. Na gagueira, o sistema pré-motor medial, responsável pela fala espontânea e integrado pelos núcleos da base, é o que tende a estar comprometido. Por outro lado, o sistema pré-motor lateral, responsável pela fala não-espontânea (como falar sozinho, cantar, ler em coro, representar um personagem e sussurrar) e integrado pelo cerebelo, tende a estar íntegro. Assim, a melhora da gagueira em situações que não envolvem fala espontânea é esperada e não significa que esta melhora possa ser transferida para a fala espontânea, uma vez que são processamentos distintos.

3. Mito: Pessoas com gagueira nunca gaguejam cantando ou quando representam um personagem no teatro.

Realidade: A maior parte das pessoas com gagueira realmente não gagueja quando canta. Entretanto, algumas pessoas com gagueira podem enfrentar dificuldades para iniciar o canto, outras podem gaguejar apenas quando cantam músicas de ritmo quase falado (como o rap, por exemplo) e outras ainda podem gaguejar no canto da mesma forma que gaguejam quando falam. Da mesma forma, boa parte das pessoas com gagueira não gagueja quando representa um personagem no teatro. A explicação para a ausência da gagueira durante o canto ou a representação de um personagem está em como o cérebro processa estas formas de expressão verbal: ambas tendem a ser processadas pelo sistema pré-motor lateral, que tende a estar preservado nas pessoas que gaguejam. Quando a gagueira ocorre durante o canto ou durante a representação de personagens, significa que o processamento não foi transferido para o sistema pré-motor lateral ou que também há algum comprometimento neste sistema.

4. Mito: O fato de as pessoas com gagueira experimentarem melhora na fluência em situações de alteração de feedback auditivo (atraso, alteração de frequência ou mascaramento) prova que a gagueira é psicológica, porque não haveria nenhuma razão para a gagueira melhorar sob estas condições.

Realidade: Quando o feedback auditivo é modificado, a fala não é mais processada de forma automática pelo cérebro. Nestes casos, o cerebelo entra em ação, porque se torna necessário extrair pistas acústicas do som externo para temporalizar a fala. É o mesmo efeito que ocorre com a leitura em coro e com o falar ao ritmo de um metrônomo, que também melhoram a gagueira de muitas pessoas.

5. Mito: O fato de as pessoas com gagueira vivenciarem piora da gagueira de acordo com o interlocutor prova que a gagueira é psicológica.

Realidade: Oscilações na gagueira que dependem do interlocutor geralmente podem ser explicadas pela ativação da resposta de congelamento. A resposta de congelamento está relacionada a uma baixa geral de atividade do organismo, incluindo diminuição dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e dos movimentos de fala. Quando uma pessoa (com gagueira ou não) se encontra em uma situação de dúvida, o cérebro dá uma ordem para o corpo se movimentar menos até que a pessoa decida o que fazer. No caso de pessoas que gaguejam, a situação de ambiguidade pode piorar a gagueira. Este efeito também pode explicar a melhora da gagueira quando a pessoa fala ou lê sozinha.

6. Mito: Geralmente tenho dificuldade para dizer meu nome e meu número de telefone quando as pessoas solicitam. Entretanto, consigo dizê-los fluentemente se estou sozinho. Isso é uma evidência de que a gagueira é psicológica.

Realidade: Este efeito pode ser explicado por três fatores. Primeiro, a gagueira é um distúrbio de fala espontânea, isso quer dizer que ela tende a se manifestar com maior intensidade quando a fala é utilizada de maneira proposicional, isto é, quando a fala de fato tem finalidade prática. Falar uma expressão fora de contexto (quando se está sozinho, por exemplo) diminui a proposicionalidade daquela expressão, fazendo com que a gagueira também diminua. Segundo, no contexto real, existe uma pressão de tempo natural, ou seja, a expressão deve ser proferida no tempo adequado. Lembrando que a dificuldade de temporalização é justamente a maior dificuldade das pessoas que gaguejam, não é de se espantar que a dificuldade aumente quando a pressão de tempo está presente. Terceiro, se a pessoa reagir negativamente frente à antecipação da ocorrência da gagueira, a gagueira também terá maior probabilidade de ocorrer devido à ativação da resposta de congelamento, que faz com que o corpo tenda a paralisar, alterando assim a produção da fala. É bom lembrar que muitos outros distúrbios oscilam de acordo com a situação (por exemplo: Síndrome de Tourette, disfonia espasmódica, doença de Parkinson), não sendo está uma característica exclusiva da gagueira.

7. Mito: Se eu não gaguejasse, minha vida seria perfeita e eu conseguiria realizar todos os meus sonhos.

Realidade: A gagueira de origem hereditária parece envolver níveis elevados do neurotransmissor dopamina e um funcionamento atípico de receptores dopaminérgicos em determinadas áreas do cérebro. O excesso de atividade dopaminérgica está relacionado a dificuldades na automatização de movimentos (como os de fala, gerando a gagueira), mas também está relacionado a um maior desempenho intelectual, maior capacidade de atenção e menor tendência à hiperatividade e impulsividade. A gagueira por lesão neurológica envolve dano físico ou bioquímico aos núcleos da base, estando relacionada a menor capacidade de atenção e maior tendência à hiperatividade e impulsividade. Portanto, se você não gaguejasse, você não seria quem é; sua vida e seus problemas seriam outros
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25 mitos sobre gagueira -2
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8. Mito: Geralmente tenho dificuldade para dizer meu nome e meu número de telefone quando as pessoas solicitam. Entretanto, consigo dizê-los fluentemente se estou sozinho. Isso é uma evidência de que a gagueira é psicológica.

Realidade: Este efeito pode ser explicado por três fatores. Primeiro, a gagueira é um distúrbio de fala espontânea, isso quer dizer que ela tende a se manifestar com maior intensidade quando a fala é utilizada de maneira proposicional, isto é, quando a fala de fato tem finalidade prática. Falar uma expressão fora de contexto (quando se está sozinho, por exemplo) diminui a proposicionalidade daquela expressão, fazendo com que a gagueira também diminua. Segundo, no contexto real, existe uma pressão de tempo natural, ou seja, a expressão deve ser proferida no tempo adequado. Lembrando que a dificuldade de temporalização é justamente a maior dificuldade das pessoas que gaguejam, não é de se espantar que a dificuldade aumente quando a pressão de tempo está presente. Terceiro, se a pessoa reagir negativamente frente à antecipação da ocorrência da gagueira, a gagueira também terá maior probabilidade de ocorrer devido à ativação da resposta de congelamento, que faz com que o corpo tenda a paralisar, alterando assim a produção da fala. É bom lembrar que muitos outros distúrbios oscilam de acordo com a situação (por exemplo: Síndrome de Tourette, disfonia espasmódica, doença de Parkinson), não sendo está uma característica exclusiva da gagueira.

9. Mito: Se eu não gaguejasse, minha vida seria perfeita e eu conseguiria realizar todos os meus sonhos.

Realidade: A gagueira de origem hereditária parece envolver níveis elevados do neurotransmissor dopamina e um funcionamento atípico de receptores dopaminérgicos em determinadas áreas do cérebro. O excesso de atividade dopaminérgica está relacionado a dificuldades na automatização de movimentos (como os de fala, gerando a gagueira), mas também está relacionado a um maior desempenho intelectual, maior capacidade de atenção e menor tendência à hiperatividade e impulsividade. A gagueira por lesão neurológica envolve dano físico ou bioquímico aos núcleos da base, estando relacionada a menor capacidade de atenção e maior tendência à hiperatividade e impulsividade. Portanto, se você não gaguejasse, você não seria quem é; sua vida e seus problemas seriam outros.

10. Mito: Pessoas que gaguejam são menos inteligentes.

Realidade: Não há relação de causa ou conseqüência entre gagueira e inteligência, ou seja, não é a falta de inteligência que causa a gagueira e nem a gagueira deixa a pessoa menos inteligente. Algumas pessoas com gagueira optam por expressar menos suas opiniões oralmente; eventualmente esta atitude pode dar a impressão para o interlocutor de que a pessoa é menos inteligente, mas este geralmente não é o caso.

11. Mito: A gagueira está mais presente em sociedades que estimulam a competição e que cobram melhor desempenho do indivíduo.

Realidade: A gagueira é um distúrbio que parece afetar igualmente todas as classes sociais, etnias, sociedades e culturas - desde comunidades indígenas da América do Sul ou do Norte, até executivos de Tóquio e Wall Street.

12. Mito: A criança gagueja para chamar a atenção dos pais.

Realidade: A gagueira não é um comportamento voluntário. Portanto, a criança não gagueja porque quer ou para chamar a atenção dos pais.

13. Mito: A criança começou a gaguejar depois do nascimento do irmão, porque ficou com ciúmes dele.

Realidade: A aparente relação causal entre o início da gagueira e o nascimento de um irmão mais novo não passa de mero acaso. O frequente intervalo de 2-3 anos entre o nascimento de dois irmãos é a chave de toda a explicação. A gagueira inicia geralmente por volta dos 2-3 anos em razão de uma fase natural de desenvolvimento das estruturas cerebrais responsáveis pela automatização da fala (os núcleos da base). Esse período coincide com a diferença de idade que é mais comum entre dois irmãos. Ou seja, devido ao fato acidental de que ambos, o surgimento da gagueira e a diferença mais provável de idade entre irmãos, estejam em torno de 2-3 anos, há uma grande probabilidade de que uma criança comece a gaguejar próximo ao nascimento do seu irmão.

14. Mito: Pais de crianças que gaguejam são os principais responsáveis pelo distúrbio do filho, pois a gagueira resultaria de uma educação repressora e recriminadora.

Realidade: A gagueira é um distúrbio neurobiológico cuja manifestação, na grande maioria das vezes, acontece à revelia de qualquer comportamento dos pais.

- Quando a gagueira ocorre devido à herança genética, significa que a criança possui genes que a predispõem ao distúrbio. Como os genes são determinados no momento da fecundação, os pais não podem escolher os genes que o filho irá receber. Por outro lado, sabe-se que o ambiente influencia a expressão genética. Desta forma, propiciar que a criança se desenvolva em ambientes (familiar, escolar, social) que favoreçam o adequado desenvolvimento da linguagem pode ser considerado como um fator de proteção.

- Quando a gagueira ocorre devido à lesão neurológica, geralmente a lesão foi causada por algum acidente em que a criança bateu a cabeça (acidentes domésticos, esportivos ou automobilísticos). Crianças entre 0 e 4 anos e adolescentes entre 15 e 19 anos são os mais propensos a sofrer trauma de crânio. O que os pais podem fazer é tentar evitar a ocorrência destes acidentes, tomando as precauções necessárias.

Embora os pais praticamente não possam evitar o início da gagueira, podem evitar que ela se agrave e se torne crônica. E é justamente em relação a estes aspectos que atitudes esclarecidas por parte dos pais são importantes. 

25 mitos sobre gagueira - 3
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15. Mito: A criança começa a gaguejar por excesso de cobrança dos pais.

Realidade: Os pais de pessoas que gaguejam são alvos de diversos estereótipos sociais. Seriam pais dominadores, superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimento de rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja. Entretanto, os avanços científicos já demonstraram que os pais não são os responsáveis pela gagueira de seus filhos. Por outro lado, determinadas atitudes podem piorar a gagueira (por exemplo, dizer para a criança parar de gaguejar, pensar antes de falar ou ficar calma). Deste modo, o ambiente familiar também desempenha um papel importante, mas não tanto no surgimento e, sim, na recuperação da gagueira. Por isso, é extremamente importante que os pais adotem atitudes que promovam a fluência.

16. Mito: Pode-se pegar gagueira por imitação ou por ouvir uma outra pessoa que gagueja.

Realidade: Ninguém pode pegar gagueira. Se fosse assim, todas as pessoas que convivessem com alguém que gagueja, gaguejariam também, mas isso realmente não acontece. Além disso, dizer para uma pessoa que gagueja que ela aprendeu a gaguejar por imitação significa rebaixá-la e humilhá-la: com tantas características favoráveis para imitar, por que escolheria a gagueira, que lhe seria prejudicial e traria desvantagens?

17. Mito: Um susto pode causar a gagueira.

Realidade: Se sustos causassem gagueira, então provavelmente todas as pessoas gaguejariam, porque, afinal, quem nunca levou um susto?

18. Mito: Nervosismo, ansiedade, insegurança, timidez e baixa autoestima causam gagueira.

Realidade: Fatores psicológicos não causam gagueira, embora possam agravá-la. Além disso, também está incorreto assumir que pessoas que gaguejam sejam mais propensas a serem nervosas, medrosas, ansiosas, tímidas ou com baixa autoestima. Algumas pessoas com gagueira podem apresentar ansiedade, insegurança, timidez e/ou baixa autoestima para falar, mas essas características tendem a ser consequências de vivências comunicativas frustrantes relacionadas à gagueira e não causas da gagueira.

19. Mito: Estresse causa gagueira.

Realidade: O estresse não causa gagueira, mas pode agravá-la e, às vezes, até mesmo melhorar a gagueira. Há relatos na literatura científica, por exemplo, de soldados com gagueira que falam fluentemente em situações de guerra e de pessoas que, em situações de discussão, experimentam uma grande redução da gagueira. As mudanças fisiológicas ocasionadas pelo grau da resposta de congelamento explicam a melhora ou a piora da gagueira sob estresse.

20. Mito: Gagueira por herança genética é melhor do que gagueira por lesão cerebral.

Realidade: Não é melhor e nem pior, apenas diferente. A gagueira hereditária pode ser transmitida de geração para geração. Por outro lado, a gagueira lesionai pode envolver danos mais amplos ao cérebro. O mais importante é que ambas respondem favoravelmente ao tratamento especializado.

21. Mito: Se a criança começar a gaguejar, é melhor fazer de conta que nada está acontecendo para que ela não tome consciência do problema.

Realidade: Acreditava-se que chamar a atenção da criança para sua fala seria a causa imediata da gagueira, fazendo com que hesitações comuns se transformassem em gagueira. Atualmente, sabe-se que isso não é verdade. Falar com a criança sobre sua gagueira não fará com que o distúrbio se instale ou piore. Falar abertamente com a criança sobre sua gagueira fará com que ela sinta o apoio dos pais, sentindo-se encorajada para compartilhar suas dificuldades. A conspiração do silêncio em torno da gagueira só contribui para aumentar a distância entre pais e filhos.

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22. Mito: Se a criança começou a gaguejar, é só esperar que passa.

Realidade: Boa parte das crianças que começa a gaguejar melhora espontaneamente pouco tempo após o início dos primeiros sintomas de gagueira. Entretanto, os pais não têm como saber de antemão quais as chances de ocorrer melhora espontânea com seu filho. Por isso, é fundamental realizar uma avaliação com um fonoaudiólogo especializado em gagueira para saber se é mais alta a chance de a gagueira melhorar espontaneamente ou se é mais alta a chance de a gagueira persistir. Uma intervenção precoce adequada é o melhor caminho para diminuir o impacto negativo da gagueira na vida da criança e dos pais.

23. Mito: Ajuda dizer à pessoa para ficar calma, relaxar, respirar fundo antes de falar ou pensar antes de falar.

Realidade: Este tipo de recomendação faz com que a gagueira pareça algo muito simples de se resolver. Se realmente fosse assim, não haveria tantas pessoas com gagueira persistente e talvez nem seria necessário tratamento para gagueira. Quando a pessoa com gagueira ouve de seu interlocutor algo como fique calmo, relaxe, respire ou pense antes de falar, ela fica ainda mais preocupada com seu distúrbio, o que provavelmente contribuirá para piorar a gagueira. Sendo assim, na intenção de ajudar, o interlocutor acaba atrapalhando ainda mais. Muitas vezes, o mal-estar que o interlocutor sente é maior do que o da própria pessoa que gagueja e é ele quem precisa ficar calmo e relaxar. Reações mais úteis para o interlocutor incluem esperar a pessoa que gagueja terminar sua fala, não completar palavras e procurar falar de modo mais lento e articulado. Enfim, respeitar o tempo e a forma de falar do outro.

24. Mito: Obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula faz com que ela perca a timidez e o medo de falar.

Realidade: Timidez e medo não causam gagueira. Portanto, é infundada a crença de que, se a criança deixar de ser tímida ou deixar de ter medo para falar, a gagueira irá desaparecer. Na verdade, a timidez e o medo de falar podem ser conseqüências da gagueira: a criança pode ter medo de falar não porque acha que pode gaguejar, mas porque sabe que vai gaguejar, porque também sabe que não consegue impedir a ocorrência da gagueira, e, muitas vezes, por acreditar que deveria ser capaz de fazer algo para não gaguejar. Por outro lado, o medo realmente pode agravar a gagueira. Assim, obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula só vai contribuir para piorar o problema. Em termos jurídicos, obrigar o aluno com gagueira a ler em voz alta ou apresentar seminários é fato gravíssimo que justifica a abertura de processo legal em razão do constrangimento gerado pelas situações.

25. Mito: A pessoa gagueja, porque pensa mais rápido do que fala.

Realidade: Todas as pessoas pensam mais rápido do que falam. Por exemplo, ao presenciarmos uma briga, nosso pensamento rapidamente detecta que a situação em questão é uma briga, percebemos quase que instantaneamente o local em que se passa e as pessoas envolvidas. Mas, por outro lado, se tivermos que falar sobre o que presenciamos, necessitaremos de um tempo muito maior para fazer isso. Para todo mundo, o pensamento é como se fosse um relâmpago e a fala, o trovão que o acompanha instantes depois. Portanto, a velocidade do pensamento não pode ser a causa da gagueira, porque todo mundo pensa mais rápido do que fala, mas nem todo mundo gagueja.

Autores: Sandra Merlo e Hugo Silva.



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