29/09/2011
tenho direito
Bem-aventurados sois vós...
Bem-aventurados sois vós... |
O episódio da vida de Jesus conhecido como o Sermão da Montanha traz ensinamentos preciosos para a vida do cristão. Nele destaca-se, sem dúvida, o discurso sobre as Bem-Aventuranças:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. (Mt 5, 3)
A palavra de Deus é simples. Para compreendê-la basta que sejamos simples, descomplicados, capazes de experimentar sem se deixar levar pelos caminhos que a vã intelectualidade por vezes nos conduz. Contemplar a presença de Deus em nossas ações é já participar de Seu reino.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. (Mt 5,4)
Jesus ama a todos, mas deixa clara a sua preferência por aqueles que mais sofrem, mais choram, mais são injustiçados. É preciso reconhecer que em nosso sofrimento é o próprio Deus quem sofre conosco. Contemplar a presença de Deus nos momentos difíceis de nossas vidas é já estar consolado.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. (Mt 5,5)
Jesus manso e humilde de coração, torne nosso coração semelhante ao vosso. Quantas vezes pedimos isso? A vida não é construída pela violência. Ao contrário, o que constrói é a capacidade de amar, de se dar ao outro gratuitamente, de levar ao outro a paz. Contemplar o coração manso do Príncipe da Paz é já possuir a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (Mt 5,6)
Sedentos e famintos de justiça sempre existiram em uma humanidade marcada pelo pecado. Jesus é solidário com aqueles mais excluídos, que sofrem a fome e a sede que matam a alma por não se sentirem irmanados com os que mais possuem. Contemplar a esperança de nos sabermos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, com os mesmos direitos é já começar a saciar o desejo de formarmos todos uma só família.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7)
O coração misericordioso do Pai é mostrado à humanidade através de Jesus Cristo. O próprio Deus nos perdoa sempre, porque a fonte de seu amor é inesgotável. Assim como o Pai nos perdoa, devemos também nós perdoar, construindo uma rede de misericórdia pronta para alcançar a todos os nossos irmãos. Contemplar a misericórdia que emana de Jesus Cristo é já alcançar o perdão por nossos pecados.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. (Mt 5, 8)
A pureza do coração é a qualidade fundamental para reconhecer a simplicidade de um Deus que constantemente está gerando vida entre nós, ainda que esta vida nos pareça pequena ou escondida. Contemplar a vida que explode em um mundo que teima em dizer não aos seus sinais, é já ver a presença de Deus entre nós.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. (Mt 5,9)
Ser promotor da paz é ser irmão de Jesus Cristo, aquele a quem o profeta Isaías chamou “Príncipe da Paz”. Ser promotor da paz é lutar, incessantemente, para que a justiça se estabeleça, a fraternidade seja a impulsionadora das relações, o diálogo seja mais forte que qualquer barreira pré-estabelecida. Contemplar a paz acontecendo em nosso meio é já assumir perante toda a humanidade a condição de Filho de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (Mt 5, 10)
Os que promovem a paz, que lutam pela justiça, que desejam construir a verdade sempre serão perseguidos por aqueles que não desejam dividir o poder, a riqueza, o status. Ser perseguido por causa da justiça é igualar-se à condição de Jesus, mártir maior da luta pelo fim da exclusão e da injustiça. Contemplar a cruz é desde já viver a ressurreição como fim maior de nossa existência.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. (Mt 5, 12)
Bem-aventurada a humanidade inteira que sofre a dor da perseguição por amor a Jesus Cristo. Bem-aventurados todos os homens e mulheres, de todas as gerações, passadas e futuras, desde já resgatados pelo amor infinito de Deus Pai por seus filhos. Bem-aventurados todos aqueles e aquelas que buscam a verdade, a justiça e não temem dizer “sim” ao projeto de Deus e continuam a lutar para que o reino se instale já no meio de nós.
escrito numa funeraria
Quando eu me for, me libertar, me deixar ir.
Eu tenho tantas coisas para ver e fazer.
Você não deve amarrar-se a mim com lágrimas
Seja feliz que tivemos durante tantos anos.
Eu te dei meu amor, você pode apenas imaginar
Quanto você me deu na felicidade
Agradeço-vos pelo amor que cada um tem mostrado
Mas agora é hora eu viajei sozinho.
Então, sofrer um pouco para mim se lamentar você deve
Então deixe o seu sofrimento ser confortado pela confiança
É só por um tempo que devemos parte
Assim, abençoa as memórias dentro do seu coração.
Eu não vou estar longe, pois a vida continua
Então, se você precisar de mim, me chamam e eu virei
Embora você não pode me ver ou me tocar eu vou estar perto
Todo o meu amor ao seu redor macia e clara.
E então, quando você deve vir só assim
Vou cumprimentá-lo com um sorriso e dizer:
"Welcome Home""
'via Blog this'
20/09/2011
A crucificação de Cristo a partir de um ponto de vista médico
Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão familiar – e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não entendia a verdadeira causa da morte de Jesus.
Os escritores do evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente, acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só temos as palavras concisas dos evangelistas: “Então, Pilatos, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”
Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?
Dados históricos
Isto me levou primeiro a um estudo da prática de crucificação, quer dizer, tortura e execução por fixação numa cruz. Eu estou endividado a muitos que estudaram este assunto no passado, e especialmente para um colega contemporâneo, Dr. Pierre Barbet, um cirurgião francês que fez uma pesquisa histórica e experimental exaustiva e escreveu extensivamente no assunto.
Aparentemente, a primeira prática conhecida de crucificação foi realizado pelos persas. Alexandre e seus generais trouxeram esta prática para o mundo mediterrâneo–para o Egito e para Cartago. Os romanos aparentemente aprenderam a prática dos cartagineses e (como quase tudo que os romanos fizeram) rapidamente desenvolveram nesta prática um grau muito alto de eficiência e habilidade. Vários autores romanos (Lívio, Cícero, Tácito) comentam a crucificação, e são descritas várias inovações, modificações, e variações na literatura antiga.
Por exemplo, a porção vertical da cruz (ou “stipes”) poderia ter o braço que cruzava (ou “patibulum”) fixado cerca de um metro debaixo de seu topo como nós geralmente pensamos na cruz latina. A forma mais comum usada no dia de nosso Senhor, porém, era a cruz “Tau”, formado como nossa letra “T”. Nesta cruz o patibulum era fixado ao topo do stipes. Há evidência arqueológica que foi neste tipo de cruz que Jesus foi crucificado. Sem qualquer prova histórica ou bíblica, pintores Medievais e da Renascença nos deram o retrato de Cristo levando a cruz inteira. Mas o poste vertical, ou stipes, geralmente era fixado permanentemente no chão no local de execução. O homem condenado foi forçado a levar o patibulum, pesando aproximadamente 50 quilos, da prisão para o lugar de execução.
Muitos dos pintores e a maioria dos escultores de crucificação, também mostram os cravos passados pelas palmas. Contos romanos históricos e trabalho experimental estabeleceram que os cravos foram colocados entre os ossos pequenos dos pulsos (radial e ulna) e não pelas palmas. Cravos colocados pelas palmas sairiam por entre os dedos se o corpo fosse forçado a se apoiar neles. O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”. Anatomistas, modernos e antigos, sempre consideraram o pulso como parte da mão.
Um titulus, ou pequena placa, declarando o crime da vítima normalmente era colocado num mastro, levado à frente da procissão da prisão, e depois pregado à cruz de forma que estendia sobre a cabeça. Este sinal com seu mastro pregado ao topo teria dado à cruz um pouco da forma característica da cruz latina.
O suor como gotas de sangue
O sofrimento físico de Jesus começou no Getsêmani. Em Lucas diz: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.” (Lc 22:44) Todos os truques têm sido usados por escolas modernas para explicarem esta fase, aparentemente seguindo a impressão que isto não podia acontecer. No entanto, consegue-se muito consultando a literatura médica. Apesar de muito raro, o fenômeno de suor de sangue é bem documentado. Sujeito a um stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo poderia causar fraqueza e choque. Atenção médica é necessária para prevenir hipotermia.
Após a prisão no meio da noite, Jesus foi levado ao Sinédrio e Caifás o sumo sacerdote, onde sofreu o primeiro traumatismo físico. Jesus foi esbofeteado na face por um soldado, por manter-se em silêncio ao ser interrogado por Caifás. Os soldados do palácio tamparam seus olhos e zombaram dele, pedindo para que identificasse quem o estava batendo, e esbofeteavam a Sua face.
A Condenação
De manhã cedo, Jesus, surrado e com hematomas, desidratado, e exausto por não dormir, é levado ao Pretório da Fortaleza Antônia, o centro de governo do Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos. Você deve já conhecer a tentativa de Pilatos de passar a responsabilidade para Herodes Antipas, tetrarca da Judéia. Aparentemente, Jesus não sofreu maus tratos nas mãos de Herodes e foi devolvido a Pilatos. Foi em resposta aos gritos da multidão que Pilatos ordenou que Bar-Abbas fosse solto e condenou Jesus ao açoite e à crucificação.
Há muita diferença de opinião entre autoridades sobre o fato incomum de Jesus ser açoitado como um prelúdio à crucificação. A maioria dos escritores romanos deste período não associam os dois. Muitos peritos acreditam que Pilatos originalmente mandou que Jesus fosse açoitado como o castigo completo dele. A pena de morte através de crucificação só viria em resposta à acusação da multidão de que o Procurador não estava defendendo César corretamente contra este pretendente que supostamente reivindicou ser o Rei dos judeus.
Os preparativos para as chicotadas foram realizados quando o prisioneiro era despido de suas roupas, e suas mãos amarradas a um poste, acima de sua cabeça. É duvidoso se os Romanos teriam seguido as leis judaicas quanto às chicotadas. Os judeus tinham uma lei antiga que proibia mais de 40 (quarenta) chicotadas.
O Açoite
O soldado romano dá um passo a frente com o flagrum (açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de couro cortam apenas a pele. Então, conforme as chicotadas continuam, elas cortam os tecidos debaixo da pele, rompendo os capilares e veias da pele, causando marcas de sangue, e finalmente, hemorragia arterial de vasos da musculatura.
As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem grandes, profundos hematomas, que se rompem com as subseqüentes chicotadas. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensangüentado. Quando é determinado, pelo centurião responsável, que o prisioneiro está a beira da morte, então o espancamento é encerrado.
Então, Jesus, quase desmaiando é desamarrado, e lhe é permitido cair no pavimento de pedra, molhado com Seu próprio sangue. Os soldados romanos vêm uma grande piada neste Judeu, que se dizia ser o Rei. Eles atiram um manto sobre os seus ombros e colocam um pau em suas mãos, como um cetro. Eles ainda precisam de uma coroa para completar a cena. Um pequeno galho flexível, coberto de longos espinhos é enrolado em forma de uma coroa e pressionado sobre Sua cabeça. Novamente, há uma intensa hemorragia (o couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do nosso corpo).
Após zombarem dele, e baterem em sua face, tiram o pau de suas mãos e batem em sua cabeça, fazendo com que os espinhos se aprofundem em sua cabeça. Finalmente, cansado de seu sádico esporte, o manto é retirado de suas costas. O manto, por sua vez, já havia aderido ao sangue e grudado nas feridas. Como em uma descuidada remoção de uma atadura cirúrgica, sua retirada causa dor toturante. As feridas começam a sangrar como se ele estivesse apanhando outra vez.
A Cruz
Em respeito ao costume dos judeus, os romanos devolvem a roupa de Jesus. A pesada barra horizontal da cruz á amarrada sobre seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dois ladrões e o destacamento dos soldados romanos para a execução, encabeçado por um centurião, começa a vagarosa jornada até o Gólgota. Apesar do esforço de andar ereto, o peso da madeira somado ao choque produzido pela grande perda de sangue, é demais para ele. Ele tropeça e cai. As lascas da madeira áspera rasgam a pele dilacerada e os músculos de seus ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos humanos já chegaram ao seu limite.
O centurião, ansioso para realizar a crucificação, escolhe um observador norte-africano, Simão, um Cirineu, para carregar a cruz. Jesus segue ainda sangrando, com o suor frio de choque. A jornada de mais de 800 metros da fortaleza Antônia até Gólgota é então completada. O prisioneiro é despido – exceto por um pedaço de pano que era permitido aos judeus.
A Crucificação
A crucificação começa: Jesus é oferecido vinho com mirra, um leve analgésico. Jesus se recusa a beber. Simão é ordenado a colocar a barra no chão e Jesus é rapidamente jogado de costas, com seus ombros contra a madeira. O legionário procura a depressão entre os osso de seu pulso. Ele bate um pesado cravo de ferro quadrado que traspassa o pulso de Jesus, entrando na madeira. Rapidamente ele se move para o outro lado e repete a mesma ação, tomando o cuidado de não esticar os ombros demais, para possibilitar alguma flexão e movimento. A barra da cruz é então levantada e colocado em cima do poste, e sobre o topo é pregada a inscrição onde se lê: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”.
O pé esquerdo agora é empurrado para trás contra o pé direito, e com ambos os pés estendidos, dedos dos pés para baixo, um cravo é batido atraves deles, deixando os joelhos dobrados moderadamente. A vítima agora é crucificada. Enquanto ele cai para baixo aos poucos, com mais peso nos cravos nos pulsos a dor insuportável corre pelos dedos e para cima dos braços para explodir no cérebro – os cravos nos pulsos estão pondo pressão nos nervos medianos. Quando ele se empurra para cima para evitar este tormento de alongamento, ele coloca seu peso inteiro no cravo que passa pelos pés. Novamente há a agonia queimando do cravo que rasga pelos nervos entre os ossos dos pés.
Neste ponto, outro fenômeno ocorre. Enquanto os braços se cansam, grandes ondas de cãibras percorrem seus músculos, causando intensa dor. Com estas cãibras, vem a dificuldade de empurrar-se para cima. Pendurado por seus braços, os músculos peitorais ficam paralisados, e o músculos intercostais incapazes de agir. O ar pode ser aspirado pelos pulmões, mas não pode ser expirado. Jesus luta para se levantar a fim de fazer uma respiração. Finalmente, dióxido de carbono é acumulado nos pulmões e no sangue, e as cãibras diminuem. Esporadicamente, ele é capaz de se levantar e expirar e inspirar o oxigênio vital. Sem dúvida, foi durante este período que Jesus consegui falar as sete frases registradas:
Jesus olhando para os soldados romanos, lançando sorte sobre suas vestes disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. ” (Lucas 23:34)
Ao ladrão arrependido, Jesus disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas 23:43)
Olhando para baixo para Maria, sua mãe, Jesus disse: “Mulher, eis aí teu filho.” E ao atemorizado e quebrantado adolescente João, “Eis aí tua mãe.” (João 19:26-27)
O próximo clamor veio do início do Salmo 22, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Ele passa horas de dor sem limite, ciclos de contorção, câimbras nas juntas, asfixia intermitente e parcial, intensa dor por causa das lascas enfiadas nos tecidos de suas costas dilaceradas, conforme ele se levanta contra o poste da cruz. Então outra dor agonizante começa. Uma profunda dor no peito, enquanto seu pericárdio se enche de um líquido que comprime o coração.
Lembramos o Salmo 22 versículo 14 “Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.”
Agora está quase acabado – a perda de líquidos dos tecidos atinge um nível crítico – o coração comprimido se esforça para bombear o sangue grosso e pesado aos tecidos – os pulmões torturados tentam tomar pequenos golpes de ar. Os tecidos, marcados pela desidratação, mandam seus estímulos para o cérebro.
Jesus clama “Tenho sede!” (João 19:28)
Lembramos outro versículo do profético Salmo 22 “Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte.”
Uma esponja molhada em “posca”, o vinho azedo que era a bebida dos soldados romanos, é levantada aos seus lábios. Ele, aparentemente, não toma este líquido. O corpo de Jesus chega ao extremo, e ele pode sentir o calafrio da morte passando sobre seu corpo. Este acontecimento traz as suas próximas palavras – provavelmente, um pouco mais que um torturado suspiro “Está consumado!”. (João 19:30)
Sua missão de sacrifício está concluída. Finalmente, ele pode permitir o seu corpo morrer.
Com um último esforço, ele mais uma vez pressiona o seu peso sobre os pés contra o cravo, estica as suas pernas, respira fundo e grita seu último clamor: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lucas 23:46).
O resto você sabe. Para não profanar a Páscoa, os judeus pediam para que o réus fossem despachados e removidos das cruzes. O método comum de terminar uma crucificação era por crucificatura, quebrando os ossos das pernas. Isto impedia que a vítima se levantasse, e assim eles não podiam aliviar a tensão dos músculos do peito e logo sufocaram. As pernas dos dois ladrões foram quebradas, mas, quando os soldados chegaram a Jesus viram que não era necessário.
Conclusão
Aparentemente, para ter certeza da morte, um soldado traspassou sua lança entre o quinto espaço das costelas, enfiado para cima em direção ao pericárdio, até o coração. O verso 34 do capítulo 19 do evangelho de João diz: “E imediatamente verteu sangue e água.” Isto era saída de fluido do saco que recobre o coração, e o sangue do interior do coração. Nós, portanto, concluímos que nosso Senhor morreu, não de asfixia, mas de um enfarte de coração, causado por choque e constrição do coração por fluidos no pericárdio.
Assim nós tivemos nosso olhar rápido – inclusive a evidência médica – daquele epítome de maldade que o homem exibiu para com o Homem e para com Deus. Foi uma visão terrível, e mais que suficiente para nos deixar desesperados e deprimidos. Como podemos ser gratos que nós temos o grande capítulo subseqüente da clemência infinita de Deus para com o homem – o milagre da expiação e a expectativa da manhã triunfante da Páscoa.
As Aparências
As Aparências
Maldita e pejorativa, a frase lhe escapuliu dos lábios, qual cuspidela fétida de tuberculose terminal, levantando uma onda de risos e provocações do bando reunido.
Aquela tinha sido a vingança covarde dos que não podiam competir com ele na sala de aula . Desde que chegara ali não se limitara a ser estrangeiro, o “russinho”, o protestante. Era também o melhor aluno em tudo, querido e admirado dos professores, bajulado dos pais, bem visto pelas meninas. Estas coisas se pagam caro aos 10 anos. E o carrasco fora bem escolhido!
O Rui não era muito alto, mas trabalhava como ajudante de mecânico há vários anos e ganhara músculos de ferro. Era repetente já de fama maior, só por isso ainda circulava entre a criançada. No dia a dia era pacato e calmo, sempre bem disposto e de olhar submisso. Mas o tinham excitado com mentiras e provocado até que servisse de vingador sobre o loirinho.
Ele cumprira seu papel sem grande gosto. Até uma ponta de remorso parecia o atacar, mas o coração embrutecido de adolescente que não tivera infância não se deixava tomar de ternura. A única linguagem que conhecia era a da violência. Em casa e na oficina era ele que apanhava. Ali , quem dava as cartas primeiro era ele e se não era grande motivo de orgulho vista a diferença de tamanhos, servia-lhe perfeitamente de compensação.
Finalmente perdeu o cortejo blasfemador ao chegar à sua rua. Mas isso não lhe aliviara o coração. Restava enfrentar a familia e isso ele teria que o fazer sozinho. E ali estava sua casa. O sobrado mal pintado, a loja por baixo e a casa por cima, com vista para o interior.
Felizmente, a reação paterna foi bem mais suave do que ele previra. Sua explicação do motivo da briga parecera ter servido de amortecedor ao estado triste em que se apresentava. Nem sequer se mencionou o fato de ter a roupa rasgada e o olho negro. Ficara apenas a promessa do progenitor:
- Amanhã estarei à tua espera na saída das aulas para que me mostres quem é esse Rui!
As aulas no dia seguinte foram um total desperdício. Como prestar atenção nos professores com a expectativa que o consumia por dentro? Olhava o rosto impávido do Rui, desconhecendo a destruição que o aguardava e isso lhe trazia tamanha satisfação que ria sem querer e procurava evitar tal reação, não fosse ela denunciá-lo.
Por duas ou três vezes durante a longa manhã tivera momentos de rara lucidez em que duvidou da vinda do pai ou do cumprimento da promessa. Mas, afogara a razão no seu lago de vingança. A injustiça tinha que ser resolvida, era urgente e necessária a retribuição. A vida lhe parecia sem sentido sem aquele corretivo dado ao mau elemento e à sua corja.
Finalmente, o último sinal soou, como trombeta divina, e lá estava o carro verde e o salvador imponente e com ar decidido. Aproximou-se tremendo e o pai o saudou perguntando:
- Quem é o Rui?
- É aquele! (mostrou-lhe excitado)
Aquele tolo ali, metido a esperto, que não sabe nada de história, nem de português ou de Inglês, ou matemática, ou seja que matéria for. Aquele ali que só sabe dar caneladas no futebol, se assoa para o chão, cospe a torto e a direito e diz palavrões. É aquele ali, com ar de parvo que nunca vai saber mais do que 2 + 2 e que merecia ser aniquilado como verme que era!
Já o pai galgara o espaço que o separava do guri. A mão erguera-se no ar e o menino esperou o barulho do primeiro estalo com os olhos semi-cerrados. Mas, qual quê? O pai apenas pousara a mão suavemente sobre o ombro do inimigo e lhe falava amistosamente, convidando a aproveitar a carona até à vila.
Terminaram fazendo uma espécie de pacto. Se o garoto fizesse ou dissesse algo errado, o Rui tinha permissão para o denunciar ao Pai,que lhe aplicaria a disciplina devida à falta em causa. E assim se despediram na frente da casa do moço.
A criança no banco de trás desaparecera em sua decepção. Lágrimas sentidas lhe queimavam os olhos numa nova humilhação tão dificil de suportar quanto inesperada. Jamais teria esperado isso do próprio pai! Fora entregue como se fosse ele o verdadeiro culpado. Será que o homem não vira logo no rosto do Rui que era ele o culpado, que era ele o mau da estória?
O dia se arrastou qual caracol paralítico, sem ânimo, sem interesse, sem remissão. O menino se sentia traído, ultrajado e só. Como poderia enfrentar a escola? Como olhar para o grupo de escarnecedores? Como encarar o Rui? Tudo parecia desfocado e em meio a uma névoa de dúvida. A própria questão da justiça e do direito tinham sido violadas. E logo por quem se supunha ser o defensor sagrado de tudo o que era virtuoso na vida!
O que o garoto não sabia é que aquela conversa a que ele chamara traição tivera o mais profundo efeito no Rui. O moço, acostumado ao punho de aço do padastro e ao trabalho duro desde menino, nunca tivera alguém que o tratasse como igual. Nunca experimentara a palavra de confiança e respeito. Jamais encarara o olhar limpo de franqueza que conhecera nesse dia.
Aquela conversa e mais do que isso, aquela atitude o resgatara verdadeiramente! Tinham lhe dado uma nova visão do mundo, da vida e da própria humanidade. Uma centelha de honra e dignidade foi acendida em seu coração, e mesmo sem saber bem o que fazer com ela o rapaz sentia que era algo tão bom que precisava ser valorizado. No seu coração de pedra surgira uma brecha e ali poderia brotar uma flôr de esperança e, quem sabe, se suas raizes não abririam outras brechas, deixando que a alma florisse em botão e a vida sorrisse afinal?
No dia seguinte, Rui olhou o loirinho com simpatia e quase carinho. Sem perceber ele era já parte essencial da solução do problema do garotinho assustado. E foi assim que, para surpresa do menino, quando dois malandros troçadores se aproximaram dele com más intenções, o gigante mecânico se interpôs e disse de sobrolho carregado e punho fechado numa voz rouca:
- Se tocar no miúdo, vai ter que se ver comigo ...
( Baseado em Romanos 8:28 )